ENTRE A DOR E O GEMIDO - Parte II
198
Tu és Grande e digo de coração:
Que belial não me amole,
Pois também a minha prole,
Está nas tuas santas mãos.
199
Sei que tens cuidado de mim,
E não há nada que me mate.
Dás tu a provação, bem como o escape
Sei assim que não é o meu fim.
200
Pesada é esta minha cruz,
Deixando-me um tanto torto,
Pois também trago no meu corpo
As marcas do meu Jesus.
201
A dor me faz perder a consciência.
Sou homem de lágrimas e não de canto,
Insistentemente brota meu pranto
E de tudo isto já não tenho ciência.
202
Ah, Deus, Todo-Poderoso
O teu silêncio me consome!
Esta dor que de mim não some,
Pouco a pouco me torna medroso.
203
Tantas vezes eu tenho chorado...
Bem no escuro do meu quarto.
Neste silêncio eu te aguardo,
Com o intuito de ser consolado.
204
As minhas forças às vezes desvanecem...
Não sei se cantarei na terra da aflição
Ou será isto para mim uma ilusão?
Pois minhas esperanças já fenecem.
205
A tristeza me consume e me devora
E a Deus falo, conto.
Ele depressa se levanta de pronto
E lança de mim tudo isto para fora.
206
À terra celestial vou possuir.
Jamais serei ignaro.
Pois seria um agravo
Não poder entrar ali.
207
Senhor, tu sabes como eu desejo
Conseguir teu grande afago.
Em teus braços não me apago
E alcanço o que almejo.
208
Grande é essa minha aflição.
Será semelhante à dor de parto?
Ou talvez como um infarto
Que me atravessa o coração.
209
A felicidade já fugiu de mim
E a tristeza bateu em minha porta.
Senhor, será que não te importas,
Que eu viva sofrendo assim?
210
Já sei definir o meu histórico.
Um resumo eu tenho desta vida.
Carrego na minha alma uma ferida.
Já não me encontro tão eufórico
211
Sofro dores, perturbações e agonias.
Gostaria que esta dor acabasse.
Que Jesus viesse e me levasse,
Para sempre com ele eu estaria.
212
Moraria bem longe daqui.
Habitaria na tua célica mansão.
Coisa indizível ao coração.
Jamais eu voltaria aqui.
213
Tua presença é uma maravilha!
Não me deixa ser como o ignoto,
Quando me abençoa e eu não noto,
Saindo assim da tua trilha.
214
Querida esposa, como eu te amo!
És tu uma mulher mui ditosa!
Tens a simplicidade de uma rosa,
Por isto é que te chamo.
215
Estou traspassado de tanto chorar...
Meu rosto já está envelhecido...
Parece que de Deus fui esquecido.
Já não está mais a me amar.
216
Minha alma só geme e chora.
Tenta forçar nos meus lábios um sorriso
E não sabe que disto não preciso,
Pois a tristeza comigo ainda mora.
217
Tenho na alma cicatrizes.
As lágrimas deixam marcas da dor.
E não importa por onde eu for,
Elas aprofundam as suas raízes.
218
Tenho provado tanto choro
E uma saudade voraz!
Vem devorando minha paz
E faz desta música o meu coro.
219
Senhor, não quero ser inservível.
Apesar do terreno inóspito,
Sei que além do mundo cósmico
Habita um Deus incrível!
220
Faz-me senhor olhar para meu irmão,
Tira de mim o espírito avaro.
Assim como tu és o meu amparo,
Também quero estender-lhe a mão.
221
Querida, eu estou mui triste.
Abala até minhas entranhas.
Como coisas tão estranhas,
Será verdade que tudo isso existe?
222
Meu Deus, tu tudo conheces.
Sabes tu que choro por ela.
Não paro de pensar nela,
Tudo isto me entristece.
223
Esposa amada... Eu gostaria até
Que para mim tu fosses única.
Queria cobrir-me com uma túnica,
Só para não ser de outra mulher.
224
Senhor, seja para mim como uma rocha.
Deus de Isaque, Abraão e Jacó.
Sei que jamais estarei só.
És tu o meu farol, a minha tocha.
225
A tempestade quer me tragar,
Mas sei que o Senhor me toma
E sempre me faz vir à tona,
Para que eu não venha afogar.
226
Mesmo neste mar tão bravio,
De grandes ondas e correntezas.
Tu me socorres com certeza,
Pois sempre em ti confio.
227
Eu sei que tudo é um treinamento,
Para que eu atinja a perfeição.
Não deixa, Senhor, eu falhar nesta missão.
Frustrando assim o teu contentamento.
228
Eu te louvo Senhor e te exalto!
Por fazer parte do teu séquito.
Eu sei que mesmo sem mérito,
Far-me-ás habitar no alto.
229
Amada minha, jamais eu amei alguém
Como tenho amado você.
Nunca hei de querer te esquecer.
Gostaria de não amar a mais ninguém.
230
Estou numa noite de pranto
Aguardando o sol brilhar.
E nessa manhã solar,
Então, soltarei um alto canto.
231
Sei, um dia o sol há de nascer.
Então voltarei a sorrir.
Também sei que o mal vai fugir
Quando para Deus eu correr.
232
Adentrarei, Senhor, no teu País.
Falarei o teu vernáculo.
Quando eu deixar este tabernáculo.
Aí, sim, serei feliz.
233
Só tu és o meu porto seguro,
Onde meu barco vai ancorar.
A tempestade jamais me levará.
Contigo já não eu estou em apuros.
234
Nunca me deixes retroceder,
Não quero sequer claudicar.
Somente para ti eu vou olhar.
Senhor, não me deixes te esquecer.
235
Estou em estado pirético
E isso me faz adoecer.
Tudo em mim quer estremecer
Até mesmo meu corpo esquelético.
236
Amada, Deus de ti sentiu saudades
E te chamou para si, querida.
Dando-te a eterna vida
No seu reino de eternidade.
237
Ah, princesa, eu daria tudo de mim
Para tê-la de novo.
Sei que estais com o santo povo
Na vida que jamais terá fim.
238
Eu sou como o que anda sozinho.
Meu gemido ecoa no espaço.
Corro e ando em longo passo,
Pois estou em cima de espinhos.
239
O inimigo torcia para ver meu fim
E entoou até uma nênia,
Mas o Senhor, com sua vênia,
De repente olhou para mim.
240
Jesus, tu és a minha felicidade.
Isto eu sei e não minto.
Não passo de um mero platelminto,
Mas só tu és a pura verdade.
241
Enche Senhor, a minha boca de riso,
Pois disto eu necessito tanto.
Só assim abrirei o meu canto,
Sei que louvar-te preciso.
242
O que eu quero mesmo é amar-Te!
Tenho todo prazer na tua lei,
Sei que faço parte da tua grei,
Meu grande desejo é louvar-te.
243
Importa, Senhor, que eu diminua
E venha logo a tua assoma,
Pois ainda que eu suma
Sei que a tua glória continua.
244
Sinto-me como um inútil nesta terra.
Estou como a moinha, como bagaço.
Penso e já não sei o que faço,
Um dia tudo se anula e se encerra.
245
Sou como aquele no anonimato.
Sinto-me desprezado e esquecido.
Não por ti, e disto eu não duvido.
Mesmo como fera no meio deste mato.
246
Olho para os lados.Lamento esta sina...
Mas enfim, contemplo o horizonte,
Elevando meus olhos para o monte
Como o salmista disse, meu socorro vem de cima.
247
Quero Senhor deitar-me em teu colo
E nele aliviar meu enfado.
Só assim, este pesado fardo,
Será lançado no solo.
248
Estou magro, chego a expor os ossos,
Isto tem sido minha alcunha.
Senhor, na tua rocha me ponha.
Vem tirar-me deste poço.
249
Traz para mim o teu alento
O povo me tem sido irônico,
Com isto sou antagônico,
Pois aborreço todo este sofrimento.
250
Meu olhar está parado. Perco a direção.
Sentindo-me todo ilhado
Como algo que está encalhado,
Abalando toda minha emoção.
251
Senhor, esta dor é tão cruenta
E a saudade é como uma pantera.
Pouco a pouco me dilacera.
Minha alma já não aguenta.
252
Sei que esperança eu já não tinha
De levantar o grande troféu,
Mas vou receber meu laurel,
Pois a vitória já é minha.
253
Tudo que me acontece
É segundo a tua vontade
E pela tua infinita bondade
Jamais me esqueces.
254
Tenho chorado noite e dia
Esta dor tão complexa
Na minha alma anexa,
Uma tamanha agonia.
255
Tenho servido de motejo
Neste caminho mui escabroso,
Mas tu fazes-me corajoso
Por isto sempre pelejo.
256
Prossigo eu a caminhar.
Uma voz me diz: “Tudo acabou”
Mas outra me diz:O GRANDE EU SOU
Não temas, é só confiar!
257
Estou envelhecido de tanto chorar
E por vezes perco meu sono.
Minha comida eu já não como.
Senhor, vem logo me alegrar.
258
A tua palavra é mui fiel
E não é algo espúrio.
Eu não sou um ser hercúleo
Vem logo tirar-me deste fel.
259
Sou um simples camponês
Aguardando o teu socorro.
Lá para a montanha eu corro,
Pois sou um homem montês.
260
Habito aqui no meio do mato
Não passo de um silvícola.
Vem, Senhor, socorre este rurícola,
Pois tenho da vida sofrido maus tratos.
261
Eu preciso do teu abrigo
E disto eu estou convicto
Que jamais estarei invicto
Se tu não fores comigo.
262
Foram tiradas de mim
As bênçãos da consolação
E as marcas da devastação
Quase que assinalam meu fim.
263
Estou caído no solo
Sofro aperto e tristeza.
Senhor, vem e dá-me a certeza
Que tens me levado no colo.
264
Sou como o órfão perdido,
Não vejo nenhuma direção.
Não me deixes caído no chão.
Não me tenhas por esquecido.
265
Chego a perder o equilíbrio,
Pois tenho sofrido opróbrio.
Sinto-me como um micróbio,
A vida é para mim um ludíbrio.
266
Achei até que fosse meu fim,
Nesta luta tão carrasca.
Em meio a tanta borrasca
Jesus olhou para mim.
267
Pensei: “Eu já estou no final
Escapei apenas por um triz,
Foi o Senhor que assim quis
Livrar-me de queda tão fatal.
268
Sofro aperto de todo lado,
Fui expulso do casulo.
Nessa dor eu me anulo.
Estou muito angustiado.
269
Só há lágrimas e tormenta
E esse mal que me assola.
A dor sem trégua me amola
E minha alma acorrenta.
270
Eu estou todo amarrado,
Qual múmia em ataduras.
Senhor, quebra essas ligaduras,
Sou um homem angustiado.
271
Socorre-me antes que eu morra.
Deus, glorifica o teu nome,
Pois um dia agente some
Esquecido em uma fria masmorra.
272
O sofrimento faz-me refletir
E espalhar teu santo brilho.
Não me deixe sair do teu trilho.
Para sempre quero existir.
273
Tu és Senhor, meu eterno fanal,
Sempre iluminando meu caminho.
Sei que nunca estou sozinho
Neste combate fatal.
274
Meu invólucro quebrei.
Estou querendo voar sozinho.
Não sou águia no ninho,
Dos altos penhascos gritei.
275
Grito no silêncio do meu quarto.
Mestre, vem e me acodes.
Eu sei, Senhor, que tudo podes.
Sou como a que tem dores de parto.
276
Sou como a brava figueira,
Inutilmente ocupo a terra.
Estou em constante guerra
Pelejando uma vida inteira.
277
Arranca-me, peço-te Senhor,
Mas não me lances fora.
Pois o que te peço agora
É que da minh’alma tire essa dor.
278
Sei, Senhor, que não sou nada.
Apenas caco, pó e verme.
E o meu corpo ficará inerte
No esquecido onde se acaba.
279
Querida minha, dá-me do teu beijo!
Põe no meu ombro o teu braço.
Envolve-me com teu abraço,
Isto é tudo o que almejo.
280
Tu és joia de valor inestimável!
A tua presença só me enriquecia.
Nesta vida nada mais eu queria,
Hoje não passo de um miserável.
281
Como me alegrar, se me falta uma parte?
Senhor, como posso ser feliz
Se tu mesmo é quem diz
Que serão os dois uma só carne?
282
Sou como o pássaro aprisionado.
Cujas asas estão cortadas
Estou fora da revoada.
Meu coração está angustiado.
283
Não consigo mais sorrir,
Parece que o inverno não cessa.
E nesta dor eu tenho pressa,
Tenho vontade de fugir.
284
Querida, como a minha alma sente,
Teu sorriso tão real.
Entretanto logo percebo: É algo “virtual”
É tudo fruto da minha mente.
285
A dor é algo tão impregnado
Que tira a minha razão de viver.
Estou pestes a perecer
Com meu sorriso é disfarçado.
286
Hoje sou apenas uma neblina
E vou-me indo como vapor
Como a erva de telhado que murchou
E para o fim se destina.
287
Minha esposa amada
Daria tudo para estar contigo,
Reclinar-me no teu ombro amigo.
A minha alma está tão enfadada.
288
Eu te invejo minha querida.
Grande foi a tua sorte.
Com Jesus não há mais morte,
Agora tens a eterna vida.
289
Hoje estou sem ti, ai de mim!
Mas louvo e exalto meu Senhor,
Que minhas forças, renovou.
Sem ele seria meu fim.
290
Minha alma está mui ferida.
Estou preso. Solto apenas gemidos,
Um tanto que deprimido.
Como é difícil esta lida.
291
Acho que está tudo acabado,
É o que às vezes penso.
Ultimamente estou tão tenso...
Como alguém desesperado.
292
Ouço Deus falar: “Eu te carrego filho”.
Senhor, suave é a tua voz.
Quero ficar contigo a sós.
Revela-me o teu brilho.
293
Santo Espírito da verdade
Mostra-me tua linda face
E antes que esta vida passe
Vem nos trazer felicidade.
294
Sei que fiquei sem minha amada
E estou preso na solidão.
Estou prostrado neste chão,
Com a alma tão amargurada.
295
Querida, dá-me o teu calor,
Ah, esposa admirável!
Sou agora um miserável!
Mendigando o teu amor.
296
Sinto em meu peito um ardor,
Grande é tua falta e ausência
Chego perder a paciência,
Querendo livrar-me desta dor.
297
Disseram de mim: “Ele não é fraco,
É valente e muito forte.
Gente olhe o meu porte!
Não passo de um simples caco.
298
Dou ao meu Deus toda glória!
Pois até aqui me sustentou.
Nunca, nunca me desamparou.
Está mudando a minha história.
299
Éramos poucos, apenas quatro.
Hoje só somos três.
Fui abatido de uma só vez,
Sufocado pelo maltrato.
300
Já não há forças para resistir.
Tira-me deste vasto mundo.
Sinto-me tão moribundo,
Tenho vontade de partir.
301
Não te cales, oh meu Senhor,
O teu silêncio me consume
E essa angústia que não some
Acaba meu resplendor.
302
Como o bêbado eu cambaleio
Embriagado nesta dor.
Mas quando para aí eu for
Aniquilarei o meu anseio.
303
Não me deixes viver ao léu.
Eu quero mesmo é ir embora.
Não por este mundo a fora,
Meu desejo é morar no céu.
304
Senhor, estou ansioso para partir
Não suporto este fardo.
Grande é este meu enfado
Que me esmaga sem desistir.
305
Melhor é estar contigo
Onde não há dor e nem contrição.
Tu és mais chegado que um irmão
És meu pai, meu grande amigo.
306
Deus, tu és a verdadeira alegria.
Para o fraco és fortaleza.
Onde ages com destreza,
Pondo fim nesta agonia.
307
Às vezes clamo,e não me respondes.
O meu choro te é notório,
Tu não és para mim ilusório.
Onde, então, te pondes?
308
Tu és grande e tens minha admiração.
Mesmo tão Santo e perfeito,
Não atentas para meu defeito.
Não tendo eu nenhuma admiração.
309
Deus meu, tudo é tão sombrio...
Cada dia mais me conscientizo
Que de ti sempre preciso.
Não passo de um homem vil!
310
Sofro esta dor tamanha.
A tristeza tem sido minha companhia.
Este mal faz cessar toda alegria
Para mim é como coisa estranha.
311
Às vezes sinto-me tão só...
Sem valor, como jogado no lixo.
Sou semelhante a um bicho.
Tal qual o vermezinho de Jacó.
312
Estou todo amarrado, estou preso.
Não posso sair, caí em grande laço.
Estou moído e em bagaço,
Perplexo e mui surpreso.
313
Estou angustiado, choro constantemente.
Sou como um barco que afunda
E esta tristeza profunda
Faz perturbar a minha mente.
314
Quando, Senhor, cessará o meu pranto?
Quando terá fim o meu gemido?
Não me tenhas por esquecido,
Como alguém encostado no canto.
315
Até quando estarei ferido?
Será que voltarei a sorrir?
Faz de mim esta dor fugir...
Encontro-me todo perdido.
316
Meus ombros estão cheio de dor.
Soterraram os meus sonhos.
Sei, Senhor, estou sendo enfadonho.
Sou perseguido por onde eu for.
317
Tem morado comigo o sofrimento,
Penso que já não olhas para mim.
Chego a pensar que é meu fim.
Assolam-me maus pensamentos.
318
Quando,Senhor, virás até nós?
O inimigo quer me fazer temer.
Não te é oculto o meu gemer,
Mas em mim não há mais voz.
319
Abro um sorriso um tanto sem graça.
Usando da boca um canto.
Foi-se o brilho e o encanto
Como neblina que logo passa.
320
Nessa batalha, não tenho para onde fugir.
Há muito tempo que pelejo,
Pois a morte com seu beijo
Tentando vem me seduzir.
321
Encontro-me em árido deserto
Já não achoa sombra
E a dor, esta fera que me assombra,
Anda espreitar-me bem de perto.
322
Já enchi o teu odre
Com as lágrimas que derramei,
De tudo já me esvaziei.
Vem, Senhor, socorre este pobre!
323
Sei que fazes tudo novo.
Sei também que nunca falhas,
Entra até dentro de fornalhas
Somente para livrar o teu povo.
324
Também sei que farás uma coisa nova,
Pois faço parte do teu povo.
Sei que me quebras e faze-me de novo,
Pondo-me assim em grande prova.
325
Por noites, tenho rolado na cama.
Tenho perdido até o sono,
De repente um susto eu tomo
Pela dor que me queima como chama.
326
Em Meseque eu sou peregrino.
Habito nas tendas de Quedar,
Desejo sair de Lo-debar
Da terra do silêncio, do negro destino.
327
Apressa-te Senhor, vem me acudir!
És tu meu amparo, meu auxílio.
Estou cansado deste exílio.
Vem, Senhor, quero voltar a sorrir...
328
Estou cansado de tanto gemer.
A dor tem seguido meu rastro,
Em tudo vejo o seu alastro.
Socorre-me, Deus, não me deixes perecer.
329
Quando amanhecerá o meu dia?
E a noite tão longa cessará?
Quando este inverno passará,
Surgindo belos raios de alegria?
330
O mal insiste em calar-me,
Perturba-me e me assola.
Essa dor, dia a dia me amola!
Querendo fazer parar-me.
331
Levanto minha voz.Meu gemido ecoa.
Teus odres minhas lágrimas já encheram
Acho que meus sonhos já morreram.
Senhor, tenho eu clamado à toa?
332
Já há três tempos que pranteio
Até grito, gemo e choro.
Quantas vezes a ti imploro?
Deus, afasta de mim tal receio...
333
Tira-me de situações tão instáveis.
Clamo a ti, peço, e tomara,
Que tornes estas minhas águas de Mara,
Em doces águas palatáveis.
334
Não fiques em silêncio para comigo.
A tua voz me faz prosseguir.
Não deixe o teu servo desistir,
Pois és o verdadeiro abrigo.
335
Nesta noite escura de solidão.
Ansioso, aguardo a aurora.
Desejo, e não vejo a hora,
De alegrar meu coração.
336
Muitos amigos já se foram
Estou só nesse deserto.
Não vejo ninguém por perto,
As meninas dos meus olhos choram.
337
Hoje minha música é triste,
Chegou meu temido inverno.
Mas tu, ó Deus, que és sempiterno,
Arranca está dor que persiste.
338
Minha alegria é escassa
Sinto-me em profunda cova,
A dor desta ardente prova
Parece que nunca passa.
339
Retira a tua mão de juízo,
Estende tua mão de benevolência.
A minha alma te pede clemência,
Pois estou em grande prejuízo.
340
Vem, amado meu, vem me socorrer,
Estou abatido e mui triste.
A negra solidão insiste,
Pouco a pouco a me corroer.
341
Fale comigo,ó grande Deus,
Escuta, Senhor, a minha voz.
Livra-me deste inimigo algoz.
Atende aos apelos meus.
342
A dor traga-me como a sepultura.
Vem, Deus, arranca-me das garras dela,
E da morte que por mim anela.
Desta horrenda criatura.
343
Sou como o vale de ossos secos.
Meus sonhos foram embora.
Não sei o que fazer agora,
Estou sitiado em grandes cercos.
344
Tu és Deus excelso e soberano,
Tens em tuas mãos a minha vida.
Mostrarás uma saída,
Pois em ti não há engano.
345
Sinto minha alma gritando dizendo: “Ai,
Não sei se me resta esperança”.
Sinto-me tal qual criança
Que anseia pelos braços do pai.
346
Estou abalado por um terremoto de problemas
Que quer soterrar a minha fé.
Não sei se continuarei de pé.
Minha alma vive um eterno dilema.
347
Não sei o que será de mim...
Desejo o sono de todos os mortais.
Força em mim não existe mais.
Chego a pensar até que é meu fim.
348
Tenho clamado a ti todo dia.
Onde estás, Senhor, que não respondes?
Porque de mim o teu rosto escondes?
Livra-me desta intensa agonia.
349
O meu coração está adormecido
Pela esperança tão demorada.
Sou como a folha que levada
Pelo vento foi pelo eterno esquecido.
350
Longa tem sido esta estrada
Tenho deixado um rastro de pranto,
Quando olho até me espanto.
Quando,Senhor, no céu terei entrada?
351
Restaura o meu lugar assolado,
Transforma meu deserto em jardim
Antes que eu veja o meu fim,
Pois de lágrimas estou encharcado.
352
Senhor, sei que poderoso tu és.
Livra-me deste cruel impasse
E se não posso ver a tua face
Mostra-me apenas os teus pés.
353
Deus, só tu és a minha rocha.
Em ti tenho grande confiança.
Sou um Jeremias, não passo de uma criança.
Repito. Não deixe extinguir a minha tocha.
354
Voarei ao paraíso do amor,
Pois sei que aqui tudo se encerra.
Então, deixarei esta terra
Quando daqui embora eu for.
355
Faço minhas as palavras de Jó:
Com meu rosto já descorado
Ando chorando por todo lado
Penso as vezes que estou só.
356
“Sois companheiros molestos”,
Desabafou assim o amigo Jó,
Aos que com ele estavam no pó.
Tais amigos não eram nada modestos.
357
Acusações também tenho sofrido,
Como o meu irmão na fé.
Mas Deus me sustém de pé,
Mesmo estando ferido.
358
A mão do Deus todo poderoso
É a mão que me sustém.
Mesmo que eu sofra desdém
Ele faz-me forte e corajoso.
359
Ás vezes sou incompreendido,
Pelos mais íntimos irmãos,
Que mesmo me vendo no chão
Não sabem o quanto estou ferido.
360
Sou como um vaso quebrado
Pelas mãos do grande oleiro.
Depois,sei, que ficarei inteiro
Quando então eu for restaurado.
361
Esposa amada, minha alma te anela!
Como almejo te encontrar.
Eu passo horas a chorar
Encostado na janela.
362
Pôs-se o sol detrás do monte
A luz da minh’alma já fenece
Como quem desaparece
Lá no infinito horizonte.
363
Já não as temos por perto.
Duas grandes colunas removidas
Que nos causaram tantas feridas,
Ah, que infindo deserto!
364
Senhor, tenho chorado com a alma!
Meu gemido não te é oculto.
Tens me acompanhado como um vulto,
Por isto a alegria me falta.
365
Estou em constante pranto,
Cujas lágrimas são tão quentes.
E por mais que eu tente
Não consigo entoar um canto.
366
Sei que um dia adentrarei
Naquele país do amor.
Onde não haverá mais dor,
Poisa paz ali desfrutarei.
367
Almejo logo ir embora
Para este lugar de santidade.
Onde reina a felicidade,
Sim, quero ir sem demora.
368
Mergulharei no rio da vida
De aspecto cristalino,
Sem vestígios de salino.
Lá sararei todas as feridas.
369
Para onde eu vou
Nunca mais hei de chorar.
Vou apenas me alegrar,
Pois o tempo de cantar chegou.
370
Já não chorarei convosco
Pois ali isto não tem.
O Senhor me disse: “Vem
Eu tirarei todo teu desgosto”.
371
A tua vontade é boa,
É perfeita e também agradável.
Sou apenas um miserável,
Como aquele que anda à toa.
372
Estou muito perturbado!
Mas meu amparo tu és.
Prefiro está aos teus pés,
Ainda que angustiado.
373
A noite tem sido tão escura
E eu choro até pegar no sono.
Então o cálice amargo tomo,
Numa taça cheia de amargura.
374
Minha alma chora e soluça,
Faz meu corpo estremecer.
A vida aprendi aborrecer,
Mas esta nas minhas veias pulsa.
375
Uma ave lá fora cantava
Numa madrugada bem fria.
Enquanto isto, minha alma gemia.
E minha voz embargava.
376
A dita ave comemorava
A alegria do amanhecer.
E eu, pouco a pouco a morrer,
Força já não encontrava.
377
Mas sei que vou conseguir
Sair deste caminho escabroso.
E ainda que de modo doloroso
Eu preciso prosseguir.
378
Senhor, o vale está tão escuro...
E me reserva fera extra.
Mas debaixo da tua destra,
Eu sei que estou seguro.
379
Há tristezas no meu coração
Isto tenho a cada dia.
Meu Deus, como eu gostaria
De ter tua inteira atenção.
380
Estou tentando ressuscitar,
Pois como disse, também morri com ela,
E esta dor cruel que me martela
Não me deixa levantar.
381
Sei que pesada é minha cruz,
Pois crucificado estou com cristo.
Vai valer apena tudo isto
Para um dia eu ver Jesus.
382
Disse Paulo: “Já não vivo mais eu,
Mas cristo vive em mim”.
Também quero viver assim
Em todos os dias meus.
383
Também cravado eu estou
E com cristo lá estarei,
Onde ali me manifestarei,
Pois ele me glorificou.
384
Já venceu a minha morte
Para eu viver em plena vida.
Suportou tantas feridas
E mudou a minha sorte.
385
Deus, glorifica o teu nome,
É este todo o meu querer.
Que a cada dia, tu possas aparecer
E que diminua este homem.
386
Se minha dor te glorifica
Que isto em mim se faça.
Pois eu sei que tudo passa,
Somente tua palavra fica.
387
Senhor, o inimigo tem tentado
Manchar-me com suas mesclas,
Trazendo consigo seus asseclas.
Mas tu tens me sustentado.
388
Mui grande é o nosso Deus.
A tua graça é bendita,
A tua glória é inaudita
E firma os passos meus.
389
Sei que prevalece o teu querer
E tua ordem é peremptória.
És um Deus que muda a história,
Não me deixas perecer.
390
Hoje sei Senhor, que não é o meu fim.
Não permitas que eu venha reclamar.
Dá-me forças para eu suportar,
Pois uma vez suportastes por mim.
391
O pecado me rodeia de tão perto
Está armando os seus laços.
Não quero os seus embaraços
E disto estou bem certo.
392
O inimigo quer tirar minha primogenitura,
Oferecendo-me um bocado de lentilha.
No entanto sei que tudo isto é armadilha
Desta horrível e cruenta criatura.
393
Sofri uma grande explosão!
Como que por dinamite.
Já cheguei no meu limite.
Estou lançado ao chão.
394
Vem e socorre-me Senhor!
Minha alma está tão triste...
Este mal persiste
Alimentando esta dor.
395
Deus, eu estou mui arrasado!
Tenho sonhos perturbadores.
Que são reflexos dos horrores
Que eu tenho passado.
396
Sei que o aguilhão da morte
É o terrível e cruento pecado
E quer pôr em mim o seu fardo,
Aniquilando assim a minha sorte.
397
Senhor, sei que não me abandonas.
De longe estás a me observar.
Sei que no céu vou chegar,
Pois em teus braços me tomas.
398
Quando penso na tua bondade
Emociono-me e chego a chorar.
Pelo teu povo estás a guerrear,
Trazendo-nos felicidade.
399
Solto gemidos involuntários.
Sai do mais profundo do meu ser.
Chego até mesmo a adoecer,
Por tantos revezes contrário.
400
Sei que estou numa terra estranha,
Mas com licença eu vou além.
Lá para célica Jerusalém,
Livre desta dor tamanha.
401
Meu país é lá, no lindo céu.
De lindos campos verdejantes,
Flores tão vivas e vibrantes
Que se encontram além deste véu.
402
Unja-me com teu santo óleo,
Pois meu semblante está caído.
Sou como pássaro ferido,
Mas tu és Rei no teu santo sólio.
403
Já estou livre do grande abismo
E jamais sofrerei tal pena,
Pois o Senhor livrou-me do Geena.
Fui selado pelo teu batismo.
404
Aguado por um lindo sol nascente!
Sairei desta condição de escória,
Pois tu és quem reescreve minha história.
Sei que a dor minha tu sentes.
405
Quando o inimigo quer me atacar
Faz jorrar meu pranto.
Todavia eu te invoco e canto,
Leão da tribo de Judá.
406
Sei que nunca nos deixas só.
Mesmo quando minha alma se arrasa.
Aí, então, eu corro para tua casa.
Desejando ouvir tua voz.
407
Não me adianta querer fugir,
Desta incessante guerra.
Minha vida é como porta que se emperra,
Recusando-se abrir.
408
Sinto no meu peito uma dormência
Pela dor que pouco a pouco me dilacera.
Devora-me qual terrível fera,
Fragilizando toda minha consciência.
409
Ainda que eu esteja lançado no monturo,
És tu minha eterna esperança.
Não quero estar ligado a carrança.
Pois tu és meu brilhante futuro.
410
Desejo muito Senhor, aliviar este enfado,
Morar no mundo dos que vivem contentes.
Onde dor jamais ninguém sente,
Para sempre está do outro lado.
411
Almejo morar na terra do amor,
Onde não haverá mais cruzes.
Habitarei com o pai das luzes
Quando para ali eu for.
412
Só habitarão e estarão contigo
Aqueles que fazem a tua vontade.
Aí, sim, conheceram tua plena bondade
E o teu maravilhoso abrigo.
413
Não consigo andar.Estou cansado
De peregrinar nesta negra terra,
Onde tudo é peleja, tudo é guerra.
Porém lá no céu não há enfado.
414
Quero estar debaixo das tuas asas,
Escondido no teu santo pavilhão
Onde teremos nossa mansão
E não simplesmente casas.
415
Jesus me tem dito: “Seja forte
Pois tudo isto não é o fim,
É apenas o início para mim
Nesta viagem sou o teu passaporte”.
416
Um dia estarei além da terra da dor,
Onde tudo ali é só primavera.
Não terei mais que enfrentar está fera,
Esta vida de desalento e dissabor.
417
Senhor, estou sedento de ti.
Quero pôr minha face em teu colo,
Não ficar lançado ao solo
Já não quero viver aqui.
418
Minha alma grita pelo Deus vivo.
Não posso viver sem ti.
Não desejo habitar aqui,
Pois desejo habitar contigo.
419
Só tu és meu Deus, meu grande amor,
Quero estar em ti escravizado,
Jamais de ti ser alforriado.
Quero estar preso ao meu Senhor.
420
Senhor, não há nada aqui especial.
Estou caminhando aos empurrões.
Desejo sair destes torrões
E adentrar a mansão celestial.
421
Quisera eu poder correr e te abraçar,
Mas ainda sou matéria em plano não espiritual.
Então tocar-te é como algo virtual,
Suspiro. Parece que estou a sonhar.
422
Da tua presença tenho fome.
Estão em mim as marcas da dor.
Não importa, sei que por onde eu for
Glorificarei teu excelso nome.
423
Para o céu desejo fugir.
Desejo novos ventos, novos ares.
Também quero do Espírito os seus mares
E de lá jamais sair.
***