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07 - Anjos em outros segmentos
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 07 - Anjos em outros segmentos

Anjos no Catolicismo

A existência desses seres foi proclamada como verdade pelo IV Concílio de Latrão, realizado em 1215. A instituição igreja católica, em algumas situações, se sobrepõe à Bíblia. Foi preciso a realização de um concílio para que tomassem como verdade a existência dos anjos? As afirmações bíblicas por si só não bastavam? A nós evangélicos sempre bastaram.

São Tomás de Aquino (1225/1274), frade dominicano, teólogo católico e italiano, formulou ensino detalhado sobre eles, entre as quais o anjo da guarda ou anjo custódio, entidade atribuída a cada cristão no momento do batismo com a missão de acompanhá-lo e protegê-lo durante toda a vida (a Bíblia não faz revelação sobre isso). Também foram propostas pelo frade, hierarquia, funções e características angelicais, nesse caso, muito do que a Bíblia já expõe.

Anjos nos livros Apócrifos adotados pela Igreja Católica

“Quando os mensageiros do rei disseram insolências, o teu anjo foi ao acampamento deles e matou cento e oitenta e cinco mil homens” (I Macabeu 7.41).

“E continuou a viagem até chegarem perto da Média. Tobias perguntou ao anjo: “Azarias, meu irmão, que remédio se pode fazer do fígado, do coração e do fel desse peixe? Ele respondeu: O coração e o fígado servem para serem queimados na presença de homem ou mulher atacado por algum demônio ou espírito mau. A fumaça espanta o mal e faz o demônio desaparecer para sempre” (Tobias 6.6,7).

Esses versículos são de dois dos sete livros a mais contidos na Bíblia católica, considerados apócrifos, por isso, não aceitos pelo meio evangélico. Nesse último versículo é citado o nome de um anjo: Azarias. No entanto, como podemos levar a sério tal relato, tal livro?! Desde quando essa “receitinha” será suficiente para banir o mal?  Expulsar demônios por meio de fumaça?! Receita essa dada por um anjo, quando vemos nos textos canônicos que os próprios anjos enfrentaram os demônios em verdadeiras batalhas frente a frente. Veja como esse outro anjo, na narrativa do profeta Zacarias, agiu diante do demônio. O versículo diz: “Ele me mostrou o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do anjo do Senhor sacrificador, e Satanás estava à sua mão direita, para se lhe opor. Mas o anjo do Senhor disse a Satanás: Que o Senhor te repreenda, ó Satanás; sim, o Senhor, que escolheu Jerusalém, te repreenda!” (Zacarias 3.2). A receita que o “outro anjo” dá é considerada um tipo de “mandinga”, pelos estudiosos, no mínimo copiado do paganismo.

Lembremos:

“Pois o rei de Babilônia está parado na encruzilhada (sacrifício de feitiçaria), no princípio dos dois caminhos, para fazer adivinhações; ele sacode as flechas, consulta os terafins (ídolos babilônico do lar, de altar, e espécie de amuleto), atenta para o fígado... (em outra versão 'entranhas',  no caso, de animal -Ezequiel 21.21).

Nesse livro canônico, do profeta Ezequiel, presente nas duas Bíblias, católica e evangélica, fala de um rei que fazia adivinhações, o que era considerado abominação por parte de Deus e de seus ensinos, através de uma inspeção do  fígado, das entranhas do animal sacrificado. A forma e o tamanho indicariam a decisão a ser tomada. Como, o Espírito Santo iria inspirar o livro de Tobias, em que um anjo dá uma orientação que contraria o ensino da Palavra de Deus, constatada em outros livros bíblicos?

“Eu sou Rafael, um dos sete anjos que estão sempre prontos para entrar na presença do Senhor Glorioso. Agora, bendigam ao Senhor na terra e agradeçam a Deus. Volto para aquele que me enviou. Escreva tudo o que lhes aconteceu. E o anjo desapareceu. Então louvaram a Deus e cantaram hinos agradecendo-lhe as maravilhas que ele tinha realizado...” (Tobias 12.15,20,22).

Nesse outro relato aparece um anjo que o livro apócrifo católico, Tobias, o identifica como sendo Rafael, que pede: “bendigam ao Senhor”, e o povo obedeceu, “louvaram a Deus”, “agradecendo-Lhe”, por ter enviado o anjo. Ele se identifica como um dos “sete anjos”, e essa expressão é da narrativa do Apocalipse e lá não dá nome aos anjos. Pelo menos uma coisa boa: dar a primazia a Deus.

“Quando os companheiros de Macabeu souberam que Lísias estava cercando as fortalezas suplicavam ao Senhor, entre gemidos e lágrimas, junto com o povo, que mandasse um anjo bom para salvar Israel” (II Macabeu 11.6).

“Agora, Soberano do céu, envia um anjo bom à nossa frente para provocar terror e tremor” (II Macabeu 15.23).

Fica claro, nesse livro, também apócrifo, de Macabeu, que seus companheiros suplicaram ao Senhor a vinda de um anjo para socorrê-los.

Anjo da Guarda no Candomblé

A concepção do anjo custódio, anjo da guarda, é de antiga tradição grega e latina. Os povos latinos concebem o seu anjo da guarda como um conselheiro que os orienta por misterioso pressentimento.

Identificado no candomblé como o "orixá anjo da guarda" teve influência do catolicismo popular. Os que se recusam acatar, os desejos desse orixá, que se manifestam em sonhos, intuição, ou nos terreiros, onde a manifestação deixa patente a individualidade do orixá, estão sujeitos à perturbação mental, segundo essa crença religiosa. Vejam bem: que anjo da parte de Deus vem para perturbar? Esses perturbadores mentais, nesse caso, são demônios. Não há nada de “anjo da guarda” neles.

Anjo da Guarda no Espiritismo

Para o Espiritismo, doutrina que tem o cristianismo por base, e iniciada no século XIX por Alan Kardec, os anjos seriam espíritos humanos desencarnados.

Eles se comunicam com os vivos, tem a mesma origem do ser humano, mas, já percorreram diferentes fases evolutivas por meio de várias encarnações e chegaram a um grau que não exige mais reencarnações sucessivas para progresso espiritual. 

Segundo a visão espírita os chamados "anjos da guarda" pelo catolicismo correspondem aos espíritos guias que cada um possui. Evoluídos, são considerados espíritos superiores com o compromisso de proteger.

Anjos na Astrologia

Para a Astrologia os anjos são “embaixadores” dos planetas na Terra, responsáveis pela influência desses planetas na vida dos homens. Algumas tradições astrológicas atribuem nomes para os anjos embaixadores:

. Miguel: embaixador do sol

. Gabriel: embaixador da Lua, etc.

Anjos na Cabala

A ciência cabalística, através de estudos da numerologia, baseando-se no alfabeto hebraico, descobriu que a soma do valor numérico das letras que compõem o nome de DEUS, perfaz o total de 72. Esse total corresponde ao nome de 72 anjos guardiões, são os intermediários entre a Terra e a Esfera Divina, e cercam o trono de Deus. A partir desse estudo determinaram a existência de um anjo da guarda (gênio ou guardião) para cada ser humano que o acompanha desde o seu nascimento. Segundo os cabalistas, esse gênio é o que dirige a vida do homem e cada um deles tem atributos especiais e pode ser invocado em períodos específicos.

A Cabala originou-se na Kabalah (Tradição), iluminada por um misticismo exacerbado. Segundo a mitologia hebraica, a cabala foi dada por Deus a Moisés, ou pelo anjo Razie l (um dos 72) a Adão, sendo depois transmitida de forma oral, de geração em geração. Com a chegada dos avanços, foi perpetuada na escrita.

O apóstolo Paulo admitia seguir a tradição de seus pais, nesse caso o judaísmo, mas deixou tal prática quando começou a entender o evangelho: “... e na minha nação excedia em judaísmo a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais. Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela sua graça, para revelar seu Filho em mim...” (Gálatas 1.14-16).

“Os fariseus e os doutores da Lei perguntaram então a Jesus: Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos...? Jesus respondeu: Isaías bem profetizou sobre vocês, hipócritas, como está escrito: Este povo me honra com os lábios, mas o coração deles está longe de mim. Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos humanos. Vocês abandonam o mandamento de Deus, para se apegarem à tradição dos homens. Disse-lhes ainda: Vocês rejeitam o mandamento de Deus para guardarem suas tradições. (...) ...Invalidando, assim, a palavra de Deus com a tradição que vocês transmitem” (Mateus 15.1-9).

“Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque fechais aos homens o reino dos céus; pois nem vós entrais, nem aos que entrariam permitis entrar” (Mateus 23.13-33).  

Jesus foi severo com os fariseus. Esses fariseus, bem como os saduceus, atribuíram os milagres de Jesus a Belzebu, o príncipe dos demônios, e não a Deus. Por que Jesus os acusava de perseguição a outros sacerdotes e profetas?

Ocorre que os fariseus e saduceus não eram sacerdotes judeus tradicionais, mas eram sacerdotes místicos. O apóstolo Paulo nos adverte sobre os mesmos, classificando seus ensinos como fábulas judaicas:

“Porque há muitos insubordinados, faladores vãos, e enganadores, especialmente os da circuncisão... ...porque transtornam casas inteiras ensinando o que não convém... ...Portanto repreende-os severamente, para que sejam são na fé, não dando ouvidos a fábulas judaicas, nem a mandamentos de homens que se desviam da verdade” (Tito 1.10-14).

“Que se desviam da Verdade”. Essa tradição se mantinha fora dos ensinos de Cristo, seguindo falsas teorias, falsos ensinos.

O apóstolo Pedro também expressou sua opinião a respeito das fábulas, e os sinônimos para tal termo são: alegoria, mito, fantasia, imaginário: “Porque não seguimos fábulas engenhosas quando vos fizemos conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, pois nós fôramos testemunhas oculares da sua majestade” (II Pedro 1.16).

Os que distorcem a Palavra são chamados, segundo a Bíblia, de estrelas errantes: “Porque se introduziram alguns [...], homens ímpios, que convertem em dissolução (perversão de costumes) a graça de Deus e negam a Deus [...]. ...apascentando-se a si mesmos sem temor; são nuvens sem água (que não contém a Palavra), levadas pelo vento de uma para outra parte; são árvores murchas, infrutíferas, duas vezes mortas [...], estrelas errantes, para os quais está eternamente reservada a negrura das trevas” (Judas 4,12,13).

Com base no ensino bíblico, tudo que foge da real Palavra de Deus são meras teorias fantasiosas, portanto. 

Anjos na Arte

A arte dá a alguns anjos um toque de sensualidade. Retrataram anjos femininos com roupas esvoaçantes, translúcidas, decotes e ombros à mostra que insinuam.

E o que dizer dos que se apresentam em fase infante, pré-adolescente, rechonchudos e nus? Aparecem com certa aura de erotismo infantil, salvo algumas exceções. À época tais detalhes passavam despercebidos, pelo visto. Fosse nos dias de hoje haveria quem questionasse tal fixação, considerada símbolo de pureza ou inclinação pedófila? Permita-me. 

A partir do Renascimento, os anjos começam a ser mostrado em ambientes cada vez mais detalhados e mais plausíveis, inclusive com um erotismo mais aberto. No período Barroco os anjos não só se tornaram "humanos", mas também sensuais, sendo suas asas e seus corpos pintados ou esculpidos com riqueza de detalhes.

Os querubins raramente vestem mais do que flores, são figurinhas masculinas, gorduchas, de nádegas nuas e róseas. Parecem cupidos, mas não os são. Em termos visuais, quase não se pode distingui-los. O cupido, deus romano, que os gregos chamam de Eros, é o símbolo do amor sensual. Retratado como um menino ou adolescente, costuma carregar arco e flecha, que são os símbolos do poder e do amor, ele também aparece com frequência de olhos vendados, porque o amor é cego.

 

 

GRUBB, Nancy. Anjos na Arte. Trad. Luciano Vieira Machado. Editora Ática, São Paulo, 1977.

pt.wikipedia.org/wiki/cabala

super.abril.com.br/religião/cabala

MIRADOR, Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda. São Paulo/Rio de Janeiro, 1993 (p. 7084-7086).

BARSA, Nova Enciclopédia. Encyclopaedia Britannica do Brasil Ltda. Rio de Janeiro/São Paulo, 1997, 1999.

DELTA LAROUSSE, Grande Enciclopédia. Editora Delta S.A. Rio de Janeiro,1980.

BÍBLIA Sagrada (Eletrônica, AT e NT). Europa Multimídia. Programação: Leandro Calçada, Ilustração: Wilson Roberto Jr. Colaboração: Thélos Associação Cultural.

Vide tópico 56 - Referências Bibliográficas